Dia da Arma de Artilharia - 10 de junho
O Exército Brasileiro comemora, em 10 de junho, data do nascimento do Marechal Emílio Luís Mallet, o Barão de Itapevi, o Dia da Arma de Artilharia.
Emílio Luís Mallet, filho de Jean Antoine de Mallet e Julie Marie Joseph Denys de Montfort, nasceu no ano de 1801, em Dunquerque, na França.
Aos dezessete anos, o jovem Mallet emigrou com sua família para o Brasil. Sob os ardores da Independência recém-proclamada, recebeu o convite do Imperador D. Pedro I para se alistar nas fileiras do Exército Nacional, em vias de organização. Em 13 de novembro de 1822, assentou praça como primeiro-cadete, privilégio de brasileiros, na Brigada de Artilharia a Cavalo da Corte.
Em 1823, matriculou-se na Academia Militar do Império e, por possuir cursos de Humanidades e de Matemática, foi-lhe dado acesso ao curso de Artilharia. Nesse mesmo ano, jurou a Constituição do Império, adquirindo, dessa forma, a nacionalidade brasileira, reconhecida pelo Conselho Supremo Militar.
Na Batalha do Passo do Rosário, em 20 de fevereiro de 1827, o então Primeiro-Tenente Mallet recebeu seu batismo de fogo, no comando da 1ª Bateria do 1º Corpo de Artilharia Montada, e teve a responsabilidade de assumir, a um só tempo, o comando das quatro baterias, uma vez que os respectivos comandantes haviam sido feridos.
Tal foi sua destacada atuação, que seu próprio comandante o promoveu a capitão, no campo de batalha, elogiando-o pela bravura, pela inteligência privilegiada e pelo sangue-frio, valores militares que seriam seu apanágio e que o fariam respeitado por sua tropa, por seus aliados e por seus inimigos.
Em 1831, em consequência das mudanças implantadas no Exército Imperial, foi demitido do serviço militar por não ser brasileiro nato, passando a dedicar-se às atividades rurais. Entretanto, quando o País atravessava um período de instabilidade política, enfrentando revoltas de Norte a Sul, as quais ameaçavam a manutenção de sua integridade territorial, Mallet, preocupado com a unidade da Nação, aderiu à causa brasileira, sendo convocado, em 1837, para lutar como major da Guarda Nacional.
No ano de 1851, Mallet foi chamado por Caxias e reintegrado ao Exército Imperial, no posto de capitão, para lutar na campanha contra o ditador argentino João Manuel Rosas e suas ações visando ao restabelecimento do Vice-Reino do Prata, permanecendo nas fileiras a partir de então.
Durante a Guerra da Tríplice Aliança, o já Tenente-Coronel Mallet, no comando do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, teve destacada atuação na Batalha de Tuiuti, travada em 24 de maio de 1866.
Enquanto preparava sua tropa para a Batalha de Tuiuti, Mallet tomou a astuciosa decisão de proteger as vinte e quatro bocas de fogo do Regimento com a construção de um largo e profundo fosso. Surpreendidas pela existência do obstáculo, as cargas da cavalaria paraguaia foram repelidas diante da defesa construída e da rapidez e precisão dos fogos daquela que entrou para a História como a “Artilharia Revólver”. Esse feito eternizou a célebre frase de Mallet: “Os primeiros são para o buraco. Precisamos honrar o fosso que nos deu muito trabalho, Amigos. Por aqui, eles não entram!”.
Mallet foi promovido, em 1866, por atos de bravura, ao posto de coronel, passando a comandar a 1ª Brigada de Artilharia do 1° Corpo de Exército, à frente da qual iria dirigir a preparação para o cerco à Fortaleza Humaitá.
Vitórias decisivas, como Itororó, Avaí, Lomas Valentinas, Ita-ivaté e Peribebuí são exemplos da abnegação, do destemor e da perspicácia de Mallet, os quais o transformaram em um paradigma para todos aqueles que escolheram servir à Pátria na Arma de Artilharia.
Em 1878, o Governo Imperial conferiu-lhe o título de Barão de Itapevi. Mallet foi promovido, por mérito, ao posto de brigadeiro e, em 15 de julho de 1885, a marechal de exército, coroando suas notáveis qualidades de chefe militar.
No ano seguinte, após sua morte, ocorrida em 2 de janeiro, o General Osorio afirmou, sobre o Barão de Itapevi, que “nenhum oficial do Exército Brasileiro prestara mais assinalados serviços, na Campanha da Tríplice Aliança, que o valente Comandante da nossa Artilharia”.
Em 23 de março de 1932, o Exército Brasileiro, como justo reconhecimento, consagrou ao Marechal Mallet a honra de se tornar o maior símbolo de inspiração para todos os artilheiros: Patrono da Arma de Artilharia.
A história da Artilharia pode ser dividida em três grandes períodos: o da Artilharia Mecânica (até o fim da Idade Média), constituída por engenhos que impulsionavam os projéteis pela força elástica produzida pela torção ou flexão de cordas, ou por outro sistema mecânico, como o de contrapeso; o da Artilharia de Fogo (fim da Idade Média até a Segunda Guerra Mundial), constituída por engenhos que impulsionam os projéteis pela explosão da pólvora; e o Período dos Mísseis (eclosão da Segunda Guerra até os dias atuais).
No combate moderno, a rapidez, a precisão e a letalidade são características que tornam a Artilharia a Arma fundamental para uma Força Terrestre potente. No Exército Brasileiro, sua missão é apoiar pelo fogo, o Movimento e a Manobra da Força, engajando os alvos que ameacem o êxito da operação militar, inclusive, com emprego dual na defesa do litoral.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Artilharia brasileira provou novamente seu valor nos campos de batalha. A Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), atualmente Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército (AD/1), ficou conhecida pela eficiência de seus fogos, fator decisivo, nas batalhas de Montese, Massarosa, Camaiore, Castelnuovo e Monte Castelo, contribuindo decisivamente para a vitória final dos aliados na Itália. O Comandante da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes, destacou que “os Artilheiros brasileiros elevaram bem alto as nobres tradições da Artilharia de Mallet”.
No Processo de Transformação, em curso no Exército, a Artilharia tem destacada participação na geração de novas capacidades para a Força Terrestre.
Nesse contexto, o Programa Estratégico ASTROS destaca-se como força de dissuasão extrarregional, capaz de contribuir na proteção à Nação e de neutralizar qualquer tentativa de ameaça à fronteira terrestre, às águas jurisdicionais com precisão e letalidade.
Ainda no viés da reestruturação, nas instalações do Forte Santa Bárbara, o Sistema Integrado de Simulação ASTROS (SIS-ASTROS) possibilita o treinamento e o adestramento de militares em táticas, técnicas e procedimentos para o emprego do SISTEMA ASTROS, em conformidade com a Doutrina Militar Terrestre.
Somam-se a esse esforço a aquisição e a modernização de novas famílias de obuseiros, como o M109 A5+ BR 155 mm, capaz de realizar fogos com maior alcance, precisão e presteza, graças aos meios digitalizados e integrados com os demais subsistemas de Artilharia desenvolvidos pela indústria nacional.
Convém salientar, nesse processo de evolução tecnológica, o desenvolvimento do Sistema Digitalizado de Artilharia de Campanha (SisDAC), evolução do antigo “Sistema Gênesis”, que entrega capacidade de coordenação do Apoio de Fogo, bem como maior precisão e celeridade no processamento das missões de tiro, assegurando que o comandante possa intervir no combate pelo fogo, de maneira segura e oportuna.
A Artilharia Antiaérea tem reequipado suas organizações militares, tanto com a aquisição de novos meios – mísseis RBS-70 de origem sueca, radares SABER M60 e M200, Bateria Antiaérea de Média Altura, entre outros – quanto com a modernização dos já existentes. Dessa forma, o Exército Brasileiro cumpre as diversas missões militares inerentes à defesa antiaérea, dos pontos sensíveis (refinarias, aeroportos, usinas hidrelétricas, centros de poder, dentre outros), e das tropas da Força Terrestre, estacionadas ou em movimento, contra vetores aeroespaciais hostis.
Tais evoluções requerem dos artilheiros um permanente aprimoramento profissional, técnico e tático, visando ao acompanhamento da contínua incorporação de novas tecnologias para o aperfeiçoamento dos materiais e o adestramento da tropa.
Artilheiros! Na data em que reverenciamos seu insigne Patrono, exemplo de coragem, de bravura, de espírito de corpo, de perseverança e de patriotismo, que os valores e as mais caras tradições da Arma dos Fogos Largos, Densos e Profundos se reflitam na rapidez e na precisão de cada missão de tiro, de sorte que a Artilharia continue a ser fator decisivo nos campos de batalha, “a última ratio regis”.
É com o fogo que se ganham as batalhas!!!
Brasília-DF, 10 de junho de 2023.
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